terça-feira, 10 de maio de 2011

Liga das Nações

Gato-do-mato, jaguatirica e irara receberam um convite da onça para constituírem a Liga das Nações.
- Aliemo-nos e cacemos juntos, repartindo a presa irmãmente, de acordo com os nossos direitos.
- Muito bem! - exclamaram os convidados. - Isso resolve todos os problemas da nossa vida.
E sem demora puseram-se a fazer a experiência do novo sistema. Corre que corre, cerca daqui, cerca dali, caiu-lhes nas unhas um pobre veado. Diz a onça:
- Já que somos quatro, toca a reparti-lo em quatro pedaços.
- Ótimo!
Repartiu a presa em quatro partes e, tomando uma, disse:
- Cabe a mim este pedaço, como rainha que sou das florestas.
Os outros concordaram e a onça retirou a sua parte.
- Este segundo também me cabe porque me chamo onça.
Os sócios entreolharam-se.
- E este terceiro ainda me pertence de direito, visto como sou mais forte do que todos vós.
A irara interveio:
- Muito bem. Ficas com três pedaços, concordamos (que remédio!); mas o quarto tem que ser dividido entre nós.
- Às ordens! - exclamou a onça. - Aqui está o quarto pedaço às ordens de quem tiver a coragem de agarrá-lo.
E arreganhando os dentes assentou as patas em cima.
Os três companheiros só tinham uma coisa a fazer: meter a caudas entre as pernas. Assim fizeram e sumiram-se, jurando nunca mais entrar em Liga das Nações com onça dentro.

Monteiro Lobato

MORAL: "Esta fábula satiriza a hipocrisia das grandes nações (representadas pela onça), que falam em pactos e acordos mas na hora H empregam a força para fazer prevalecer seus interesses."

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